Microbiota intestinal e saúde mental: a influência do nosso intestino no bem-estar emocional

por Pedro Rodrigues

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A microbiota intestinal é o conjunto de micro-organismos que habitam o nosso trato gastrointestinal. Ela é composta por bactérias, fungos, vírus e outros micróbios que desempenham funções importantes na digestão, na imunidade e na produção de vitaminas e neurotransmissores. A microbiota intestinal é considerada um “órgão” que se comunica com o nosso cérebro através do eixo intestino-cérebro, uma rede complexa de sinais nervosos, hormonais e imunológicos.

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A saúde mental é um estado de bem-estar no qual a pessoa pode lidar com as adversidades da vida, realizar as suas potencialidades e contribuir para a sociedade. A saúde mental envolve aspectos cognitivos, emocionais, sociais e comportamentais, e depende de fatores genéticos, ambientais e psicológicos. A saúde mental pode ser afetada por transtornos como depressão, ansiedade, estresse, bipolaridade, esquizofrenia, entre outros.

O tema deste artigo é a relação entre a microbiota intestinal e a saúde mental. Como o nosso intestino influencia o nosso bem-estar emocional? Quais são os mecanismos envolvidos nessa interação? Quais são as evidências científicas que sustentam essa conexão? E como podemos cuidar da nossa microbiota intestinal para promover a nossa saúde mental? Essas são algumas das perguntas que vamos tentar responder neste artigo.


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A microbiota intestinal e o cérebro: uma via de mão dupla

A microbiota intestinal e o cérebro estão constantemente trocando informações através do eixo intestino-cérebro. Esse eixo é formado por três componentes principais: o sistema nervoso entérico (SNE), o sistema nervoso central (SNC) e o sistema imunológico.

O SNE é uma rede de neurônios que reveste o intestino e controla as suas funções motoras, secretoras e endócrinas. O SNC é composto pelo cérebro e pela medula espinhal, que coordenam as funções cognitivas, emocionais e comportamentais.

O sistema imunológico é responsável pela defesa do organismo contra agentes patogênicos e pela modulação da inflamação.

A comunicação entre a microbiota intestinal e o cérebro ocorre por meio de diferentes vias. Uma delas é a via neural, na qual os neurônios do SNE enviam sinais para o SNC através do nervo vago, o principal nervo craniano que conecta o intestino ao cérebro.

Outra via é a via endócrina, na qual os micróbios intestinais produzem hormônios e peptídeos que afetam o humor, o apetite, o sono e o estresse. Uma terceira via é a via imunológica, na qual os micróbios intestinais influenciam a resposta inflamatória do organismo, que por sua vez afeta a função cerebral.

Essa comunicação é bidirecional, ou seja, tanto a microbiota intestinal pode afetar o cérebro quanto o cérebro pode afetar a microbiota intestinal. Por exemplo, situações de estresse podem alterar a composição e a atividade dos micróbios intestinais, reduzindo a diversidade e a abundância de bactérias benéficas e aumentando a permeabilidade intestinal.

Por outro lado, a modulação da microbiota intestinal por meio de probióticos (micróbios vivos que conferem benefícios à saúde) ou prebióticos (substâncias que estimulam o crescimento de micróbios benéficos) pode melhorar os sintomas de transtornos mentais como depressão e ansiedade.

Microbiota intestinal e os transtornos mentais: evidências e desafios

Nos últimos anos, vários estudos têm investigado a relação entre a microbiota intestinal e os transtornos mentais, buscando compreender os mecanismos envolvidos e as possibilidades terapêuticas.

Esses estudos têm utilizado diferentes abordagens, como a análise da composição e da função da microbiota intestinal em pacientes com transtornos mentais, a manipulação da microbiota intestinal em modelos animais de transtornos mentais e a intervenção com probióticos, prebióticos ou antibióticos em pacientes com transtornos mentais.

Os resultados desses estudos têm mostrado que a microbiota intestinal está associada a diversos transtornos mentais, como depressão, ansiedade, estresse, bipolaridade, esquizofrenia, autismo, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, entre outros.

Esses transtornos mentais apresentam alterações na composição e na função da microbiota intestinal, que podem estar relacionadas a fatores como genética, dieta, estilo de vida, uso de medicamentos, infecções e inflamação. Além disso, esses transtornos mentais apresentam alterações no eixo intestino-cérebro, que podem envolver distúrbios na sinalização neural, endócrina e imunológica.

Apesar das evidências crescentes, ainda há muitos desafios para estabelecer uma relação causal entre a microbiota intestinal e os transtornos mentais. Um dos desafios é a complexidade e a variabilidade da microbiota intestinal, que depende de vários fatores individuais e ambientais.

Outro desafio é a dificuldade de isolar o efeito da microbiota intestinal dos demais fatores que influenciam a saúde mental. Um terceiro desafio é a escassez de estudos clínicos de alta qualidade que avaliem a eficácia e a segurança das intervenções baseadas na microbiota intestinal para os transtornos mentais.

A alimentação correta para cuidar da microbiota intestinal e da saúde mental

Uma das formas mais simples e eficazes de cuidar da microbiota intestinal e da saúde mental é através da alimentação. A alimentação tem um papel fundamental na modulação da composição e da função da microbiota intestinal, bem como na regulação do eixo intestino-cérebro. Uma alimentação equilibrada, variada e rica em fibras pode favorecer o crescimento de micróbios benéficos e a produção de substâncias que melhoram o humor, o sono e o estresse.

Por outro lado, uma alimentação pobre, restritiva e rica em gorduras e açúcares pode prejudicar a diversidade e a integridade da microbiota intestinal e aumentar o risco de inflamação e de transtornos mentais.

Algumas dicas para uma alimentação correta para a microbiota intestinal e a saúde mental são:

  • Consumir alimentos naturais e minimamente processados, como frutas, verduras, legumes, cereais integrais, leguminosas, oleaginosas, sementes, ovos, carnes magras, peixes e laticínios.
  • Evitar alimentos ultraprocessados, como refrigerantes, sucos artificiais, biscoitos recheados, salgadinhos, bolos prontos, embutidos, molhos prontos e temperos industrializados.
  • Faça sua própria comida em casa, receitas saudáveis e caseiras.
  • Incluir alimentos probióticos na dieta, como iogurte natural, kefir, kombucha, chucrute, kimchi e missô.
  • Incluir alimentos prebióticos na dieta, como alho, cebola, alho-poró, aspargo, banana verde, chicória, alcachofra e aveia.
  • Moderar o consumo de álcool, cafeína e sal.
  • Beber água suficiente para manter a hidratação.

Alguns exemplos de receitas saudáveis para a microbiota intestinal e a saúde mental são:

  • Salada de folhas verdes com tomate cereja, cenoura ralada, nozes picadas e molho de iogurte natural com hortelã.

Benefícios dos probióticos e prebióticos para a saúde mental

Os probióticos e prebióticos são alimentos ou suplementos que podem melhorar a qualidade e a quantidade da microbiota intestinal, favorecendo o equilíbrio entre os micróbios benéficos e os patogênicos. Os probióticos são micróbios vivos que conferem benefícios à saúde quando consumidos em quantidades adequadas. Os prebióticos são substâncias que estimulam o crescimento ou a atividade de micróbios benéficos no intestino.

Os benefícios dos probióticos e prebióticos para a saúde mental estão relacionados à sua capacidade de modular o eixo intestino-cérebro, influenciando a sinalização neural, endócrina e imunológica. Alguns dos mecanismos pelos quais os probióticos e prebióticos podem afetar a saúde mental são:

  • Produzir ou estimular a produção de neurotransmissores, como serotonina, dopamina, gaba e acetilcolina, que estão envolvidos na regulação do humor, da cognição, da memória e do aprendizado.
  • Produzir ou estimular a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), como butirato, propionato e acetato, que são fontes de energia para as células intestinais e cerebrais, além de terem efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e neuroprotetores.
  • Interagir ou estimular a interação com os receptores do sistema endocanabinoide (SEC), que é um sistema de sinalização que modula diversas funções fisiológicas e psicológicas, como o apetite, a dor, o estresse, a ansiedade e a depressão.
  • Atenuar ou prevenir a inflamação sistêmica e cerebral, que está associada a vários transtornos mentais, como depressão, ansiedade, esquizofrenia e autismo.
  • Melhorar ou restaurar a permeabilidade intestinal, que é a capacidade do intestino de impedir a passagem de substâncias nocivas para a corrente sanguínea. A permeabilidade intestinal aumentada pode levar à translocação de bactérias, toxinas e antígenos para o sangue, desencadeando uma resposta imunológica e inflamatória que pode afetar o cérebro.

Vários estudos têm demonstrado os benefícios dos probióticos e prebióticos para a saúde mental em diferentes populações. Por exemplo, um estudo mostrou que o consumo de um probiótico contendo Lactobacillus casei Shirota por 8 semanas melhorou o humor e reduziu os níveis de cortisol (hormônio do estresse) em adultos saudáveis.

Outro estudo mostrou que o consumo de um prebiótico contendo galactooligossacarídeos por 3 semanas aumentou os níveis de triptofano (precursor da serotonina) no plasma e reduziu os sintomas de ansiedade em mulheres jovens. Um terceiro estudo mostrou que o consumo de um probiótico contendo Bifidobacterium longum NCC3001 por 6 semanas reduziu os sintomas depressivos em pacientes com síndrome do intestino irritável.

Conclusão

A microbiota intestinal é um “órgão” que se comunica com o nosso cérebro através do eixo intestino-cérebro. Essa comunicação é bidirecional e pode afetar tanto a saúde mental quanto a saúde intestinal. A microbiota intestinal está associada a diversos transtornos mentais, como depressão, ansiedade, estresse, bipolaridade, esquizofrenia, autismo, entre outros.

Esses transtornos mentais apresentam alterações na composição e na função da microbiota intestinal, que podem estar relacionadas a fatores genéticos, ambientais e psicológicos. A modulação da microbiota intestinal por meio de probióticos, prebióticos ou antibióticos pode melhorar os sintomas de transtornos mentais, influenciando a sinalização neural, endócrina e imunológica.

A alimentação é um dos fatores mais importantes para cuidar da microbiota intestinal e da saúde mental, pois pode favorecer o crescimento de micróbios benéficos e a produção de substâncias que melhoram o humor, o sono e o estresse.

Fontes:

Microbiota intestinal: o que é, funções e como cuidar : O que é saúde mental? : Eixo intestino-cérebro: como as bactérias do intestino podem influenciar o nosso humor : Microbiota intestinal e transtornos mentais: uma revisão dos estudos clínicos : Alimentação e saúde mental: como os alimentos podem influenciar o nosso humor : Probióticos e prebióticos: o que são, benefícios e como consumir : Probióticos, prebióticos e saúde mental : Consumption of fermented milk product with probiotic modulates brain activity : Prebiotic intake reduces the waking cortisol response and alters emotional bias in healthy volunteers : Probiotic Bifidobacterium longum NCC3001 Reduces Depression Scores and Alters Brain Activity: A Pilot Study in Patients With Irritable Bowel Syndrome.

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